terça-feira, 22 de julho de 2014

As sementes do Tempo


“A semente não pode saber o que lhe vai acontecer, a semente jamais conheceu a flor. E a semente não pode nem mesmo acreditar que traga em si a potencialidade para transformar-se em uma bela flor. Longa é a jornada. E sempre será mais seguro não entrar nela, porque o percurso é desconhecido, e nada é garantido... mil e uma são as incertezas da jornada, muitos são os imprevistos - e a semente sente-se em segurança, escondida no interior de um caroço resistente. Ainda assim ela arrisca, esforça-se; desfaz-se da carapaça dura que é a sua segurança, e começa a mover-se. A luta começa no mesmo momento: a batalha com o solo, com as pedras, com a rocha. A semente era muito resistente, mas a plantinha será muito, muito delicada, e os perigos serão muitos.

Não havia perigo para a semente, a semente poderia ter sobrevivido por milênios, mas para a plantinha os perigos são muitos. O brotinho lança-se, porém, ao desconhecido, em direção ao sol, em direção à fonte de luz, sem saber para onde, sem saber por quê. Enorme é a cruz a ser carregada, mas a semente está tomada por um sonho e segue em frente. 

Semelhante é o caminho para o homem. É árduo. Muita coragem será necessária”.  fonte Osho/Coragem

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Ensaio sobre a Loucura


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apresenta

 A Loucura da Lucidez

em

O Quartinho dos Fundos

 

Texto/roteiro de Soaroir de Campos

Direção Vanderbilt
Patrocínio Delft Blue House
March – 2009

(Entulho amassado) Pai

(Entulho mofo) Mãe

(Entulho recente) Filho nº 1

 (Entulho estrangeiro ) Filho nº 2

(Entulho indefinido) Cadela

 

Época : ontem

Lugar da cena : 12º andar de um prédio de São Paulo/SP

PRIMEIRO ATO

Casa de uma família da classe ex média. Manhã de domingo de verão – enquanto ela, com a mesma roupa que dormiu e os cabelos meio loiros meio brancos, alvoroçados e presos no alto da cabeça, na área de serviço, sobre a máquina de lavar,  e de frente para um vitrô,  com ar impaciente troca a água da cachorra,  depois o jornal no banheiro da ex-empregada; lava o bebedouro p beija-flores e o enche de água com mel; despeja em uma telha alpiste para os passarinhos  e  enche um balde para molhar as plantas -  indo e vindo da área de serviço, passando pela cozinha e cruzando a sala num corredor compulsório entre um sofá e um piano cobertos a fim de se safarem do pó da construção em frente 

 Cena I

Pai e Mãe

 

Ele ainda em pijamas e pés descalços:


 

Pai                              entulhos entulhos entulhos
Aqui cheira bagunça.

 

Mãe                Então cheira a gente!


Pai                   Ah, ordem é bicho!?

 

Mãe                Liberdade é avesso da arrumação.

 

Pai                    ...Se pelo menos espanassem Padre Quevedo e Blake!

 

Mãe                Quá! Essa conversa vai longe...


Pai                              Cada dia mais você se desinteressa pelas coisas. Nada tem mais um lugar certo!
                        Um monitor queimado, dois sacos de carvão, livros por todo o canto. Até os manuais do cursinho do JR ainda se amontoam por aqui. Jogue isso fora. É a pata chocando o ovo do cisne, é?
E aquela caixa ali?
Cacete! São antigos arquivos que ele limpou quando veio de férias há um ano e meio.
Não vai falar nada? Endoidou?
Hei, hei, volte aqui. Merda. Bosta de barata...
 


Som da porta da frente sendo fechada com força/raiva  

Cena II

 Mãe 

De pé frente a um espelho retangular no banheiro da ex empregada,
enquanto lava as mãos  ela pensa

 

Entendo cada vez mais o Van Gogh.  

Alisando as laterais da cabeça


minhas orelhas ainda estão inteiras, tão firmes como a minha cabeça. Continuarão aqui.

Com o espelho pendurado na mão direita, 
E a esquerda arrumando os cabelos, olhar de satisfação, se dirige para a sala
 e se joga no sofá – dá voz a seus pensamentos


O que pode haver de tão insalubre ter entulhos num quartinho dos fundos do 12º andar?  Exatamente por isso ele fica nos fundos. Não vou explicar droga nenhuma.
E daí?  Amanhã eu faço. Ou depois de depois de amanhã. Quando eu tiver vontade de mexer com coisas velhas. Certas enunciadas verdades são intoleráveis. Se ele visse a  coleção de vidros e todas as lâmpadas fluorescentes e as pilhas e as baterias guardadas  para um dia alguém reciclar!

De onde você surgiu?
 

Pai


Saindo pela porta dos fundos, abraçado 
a uns sacos cheios de alguma coisa



Nota do autor: tenham paciência comigo. Aqui na casa de repouso nunca deixam eu terminar nada. Volto amanhã. Eu prometo.

O problema não é a loucura, mas a surpresa do despejado...
 
Soaroir
Enviado por Soaroir em 20/02/2012
Reeditado em 21/02/2012
Código do texto: T3509632
Classificação de conteúdo: seguro

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