terça-feira, 6 de novembro de 2012

Um Conto em Prosa


A Mulher de Lata
E as Virtudes Cardeais

©Soaroir de Campos
SP/SP 27/10/12




O cachorro me acordou às cinco. Providencial já que coincide com a hora que devo engolir “ciprofloxacino” para combater um ataque de mau imunodepressor,entre outros, segundo a Net, porque remédio da rede publica não vem com bula e as informações impressas no verso da cartela metálica não se consegue ler, o que de certa forma é uma benção. A última bula que li trazia 1% de benefícios e 99% de possíveis danos colaterais.

Não dá para voltar para a cama embora estejamos no horário de Verão, fato que o cachorro desconhece e insiste em querer descer, mas eu, ainda que toscanejando, aproveito o silêncio para dar ouvidos ao que repentinamente, como vazamento de um dique, goteja pelas brechas do meu inconsciente enchendo minha moringa e lataria, então me rendo à análise das injúrias, das injustiças e das maldades que me intoxicaram ao me calar.


Ainda tentando me esquecer das sovinices eu me dou conta de que a temperança que nos aconselha ao domínio da vontade sobre os instintos também nos induz a nos acumpliciarmos com a violação das demais Virtudes Cardeais, principalmente a justiça que hoje mais nos amedronta do que nos avigora, quem com seus inaccessíveis e impermeáveis rábulas que nos encurralam ao cunhal da insignificância e então entregamos calados o que a nós pertence.

Resta-nos a fortaleza que criamos quando em folhas de flandres nos revestimos para manter a firmeza e a perseverar em discernir, em quaisquer circunstâncias, o certo do errado e então escolher os meios para autodefesa e a sobrevivência digna e saudável. No entanto, às vezes explodimos!

Dizem que esquecer ofensas depende da nossa memória e acabo de me lembrar de que preciso descer com o cachorro, que não age por maldade, perdoa, mas jamais esquece os maus tratos.

Vamos Chuko, vamos mijar no mundo...



(imagem/Google/wordpress)





Este texto faz parte do Exercício Criativo - A Mulher de Lata

domingo, 14 de outubro de 2012

Em algum Lugar do Meu passado - Conto Minimalista




Acareamento
"Ficou em algum lugar do meu passado"

Conto Minimalista
By Soaroir
11/10/12


Yesterday, Today and Tomorrow
Gwen Meharg Watercolor - 22 x 30 unframed
  



- Estás ouvindo? Indagou rompendo o silêncio dos bosques.

- É verdade, ouço ao longe um ruído – e ocultou-se novamente atrás da moita. Ainda, de seu esconderijo, interpelou - há alguma coisa de novo?

- Há, sim, meu caro.

- + #¨*@#"!"

- Compreendo...Mas independe de mim.

O presente pareceu compreender. Mas, devido ao adiantado da hora, e sem mais manifestação, o futuro seguiu lambendo (suas) as impérvias mariolas.


Conto Minimalista
By Soaroir
11/10/12


Este texto faz parte do Exercício Criativo - Ficou em Algum Lugar do Meu Passado
Saiba mais, conheça os outros textos:
http://encantodasletras.50webs.com/ficounopassado.htm

sábado, 13 de outubro de 2012

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

O Voo da Seagull

Copyright Soaroir de Campos
8/10/12


imagem/http://www.manchester2002-uk.com/maps/lakes.jpg


O dia inteiro, na mansão do Lorde Chanceler, tipica construção do século XVI situada nos arredores de Grasmare, com salas lembrando caramanchões onde os pássaros das árvores desciam sem medo até as floreiras, trabalhava uma jovem de familia, à época, muito humilde, contratada pela governanta Frau von der Dorf para auxiliá-la nos serviços domésticos.
Mary-Anne aprendera a ler com seu pai quando este ainda não havia sido destituido de suas posses como feudatário, o que lhe valia de refrigério nas poucas horas que lhe sobravam para repouso, quando no sótão, à luz dos sobejos, réstias de velas sobradadas dos castiçais da mansão ela lia o que conseguia emprestado da boa frau Dorf. E assim Mary-Anne começou a descobrir que o mundo ia além do pouco que até então havia conhecido.
Até que frau von der Dorf lhe presenteu com seu poeta preferido, e Mary-Anne a partir de então passou a sonhar com a liberdade cantada nas poesias de William Wordsworth, THE PRELUDE BOOK FIRST - INTRODUCTION--CHILDHOOD AND SCHOOL-TIME.

Certo dia, acobertada pela senhora Dorf, Mary-Anne desceu até a região dos lagos e lá chegando, já à tardinha, sentou-se e se encantou; deu asas ao seu destino e voou, como voa qualquer gaivota, quando do recolher das velas.



Para (4º Desafio Beco dos Poetas)
http://www.becodospoetas.com.br/forum/topic/show?id=2169003%3ATopic%3A423222&xgs=1&xg_source=msg_share_topic

domingo, 2 de setembro de 2012

Às Margens do Ipiranga

Às Margens do Ipiranga (EC)


 O Brado da Coli (¹)
Copyright Soaroir de Campos  

 
Por mais bravio e convicto que possa lhes parecer, a narrativa que estou à teclar, não espero nem peço crença. Louca eu estaria de esperar que, uma tão antiga história recontada há mais de dois séculos, meus sentidos rejeitassem as evidências.

Entre muitas outras árvores nativas preservadas pelo Dr. Ihering, deita-se um príncipe sob a sombra de dois cedrella fissilis enquanto seus três caceteiros saem em busca de água inclusive para os cavalos. Cansado da longa viagem de visita a parte de seu território, o jovem príncipe adormece.

Às vésperas da Primavera no Hemisfério Sul, uma fina garoa se precipita, refrescando a mente e o ataviado corpo do principezinho.

Alfonso chega com um cantil e acorda o herdeiro que avidamente engole a água e volta a dormir, sem ouvir o aviso do jagunço: “Majestade, eu trouxe a água, mas ela é muito vermelha”. Notícia que mais tarde se conhece as consequências.Dorme profundamente e sonha com toda aquela vida miserável que sempre teve desde quando ainda puto. Sem vídeo game, televisão, internet... Nada, nada, mas obrigações e deveres preenchiam sua existência.

A menos de um mês de completar 24 anos, o nobre rapaz sonha com as intempéries do reino, o que bem conhece desde miúdo; com a fuga da família real e a travessia do Atlântico quando então é acordado por seus guarda-costas, avisando-o de que alguém se aproxima.

Assustado e ainda sonolento, se retorcendo (de dor) pelo efeito da água do rio vermelho que havia bebido, monta seu puro sangue que já o aguarda arreado e, com a espada desembainhada e em riste, segue a declive até avistar um cavaleiro que de longe anuncia: “Trago notícias da corte!”. Menos ansioso o jovem príncipe espera a chegada do mensageiro que se aproxima no exato momento em que este tenta esvaziar a bexiga; pede para que lhe seja lida a mensagem e em seguida, em quase estado de alucinação, grita: “deixem-me cá em paz! Já disse que FICO. Cumpram-se...”

O mensageiro já perto de desaparecer na curva à margem do Y Piranga, quando pela Mata Atlântica ecoa um grito...
“Independência ou morte!”. 




(¹)  A Coli (Escherichia coli- também conhecida pela abreviatura E. coli) bacteria bacilar  Gram-negativa, que, juntamente com o Staphylococcus aureus é a mais comum e uma das mais antigas bactérias simbiontes do homem. O seu descobridor foi o alemão-austríaco Theodor Escherich, somente em 1885 (fonte:Wikipedia)

 
(in esboços) by Soaroir 30/8/2012

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Quando não se Cabe em Si

No Dia Seguinte é Poesia
By Soaroir
27/8/12
             Tuko - Nosso Cão Adotado
 

Noite passada dormi inquieta.
A bunda não cabia na cama,
E os travesseiros na nuca.
À Oeste a meia lua iluminava o quarto;
Acompanhei-a até sumir aonde vai agora o Sol.
Com meus pedaços de sonhos inquietos
Levantei-me para aprontar um chá com leite;
Pensava atrair um sono justo,
Mas tropecei no cachorro,
Que de vigília à minha porta,
Por vingança, ou coisas de cachorro,
Ali se prostrava com semblante de miserável.
Ao acender a luz descobri -
Ele anunciava: - fiz merda no banheiro!
Mas já era muito tarde.

domingo, 19 de agosto de 2012

Três Mulheres e um Segredo (EC)

A Compartilha
By Soaroir 20/08/2012


imagem google

 Quando a porta da frente se fechou atrás dela, a governanta se virou para o sombrio hall e se deparou com a dona da casa estendida no chão. Após gritar insistentemente:

– Senhora Baines, senhora Baines. – Helga acendeu e apagou a luz conforme o combinado.

– Rubriquem todas as vias e assinem a última página, logo abaixo da Anna – disse a tabeliã Dra. Schmidt, à primeira hora do dia seguinte.




Este texto é parte do "EC - Exercício Criativo".
Conheça os outros autores:
http://encantodasletras.50webs.com/tresmulheres.htm


sábado, 9 de junho de 2012

Microcontos no SESC

Microcontos
http://issuu.com/ilconsolacao/docs/final

Arlequins
By Soaroir
17/1/12


Quanta loucura! Cada um vindo de um lugar,
para chegar ao mesmo resultado...



foto by Soaroir (Brigadeiro c Paulista)

Curto Conto

As Horas Ulteriores
By Soaroir
7/5/12


A terapeuta pediu que Grudum ,  a paciente, olhasse de fora aquele problema. Assim ela fez. E, como se uma nuvem negra caísse sobre o ultimo objeto de sua salva guarda, ela ficou a mercê da visão de espectador. Amofinou-se de veras ao olha para aquela coisa absurda que lhe acontecia.
Naquele Sábado, ao retornar para as faculdades além da alma, morais e intelectuais, ou seja, a realidade,  destampou uma cerveja forte e racionalizou. Lembrou-se de obsoletas máximas que não mais se aplicavam àquele século. 

Na parede releu, na  reminiscência do despejo, a gravura com a  carta de van Gogh  para Theo, onde ele miserável  e  humildemente manifesta agradecimentos pelas esmolas e explica como usou o dinheiro que recebeu pela venda de seus próprios quadros. Mon Cher Theo... merci de ta lettre contenant les échantillons ,  anexando um esboço que justifica sua necessidade de mais material. Pobre ser ingênuo... como todos com alma feita de tinta.
Le pêcher... 3 mêtres de celle à 6 fr. ...Pour ce qui est deson...


quinta-feira, 7 de junho de 2012

Marie Kant e o Gênio

Contos Curtos
By Soaroir



- Se você pudesse me pedir três desejos, quais seriam? Perguntou duas vezes Dranduff

- Eu pedira mais três...

- E depois?

Que eles se realizassem. E o terceiro, que eu não me arrependesse.

- Ok. E os demais?

- Que você não me perguntasse mais nada...

Poof!

O gênio sumiu e desde então não foi mais visto até 200 anos depois, num outro dia das mães.

Eu, Marie-Anne Kant, testemunhei.

Xeque-mate

Contos Curtos

By Soaroir

 

As negras encontram-se em vantagem;
na próxima jogada as brancas empatam o jogo.
Elas dão xeque-mate em duas jogadas:

sábado, 31 de março de 2012

Contos de Outro Mundo


imagem/google



No ventre de uma mulher grávida estavam dois bebês.

"O primeiro pergunta ao outro:

- Você acredita na vida após o nascimento?

- Certamente. Algo tem de haver após o nascimento. Talvez estejamos aqui porque precisamos nos preparar para o que seremos mais tarde.

- Bobagem, não há vida após o nascimento. Como verdadeiramente seria essa vida?

- Eu não sei mas, provavelmente, haverá mais luz do que aqui. Talvez caminhemos com nossos próprios pés e comamos com a boca.

- Isso é um absurdo! Caminhar é impossível. E comer com a boca? É totalmente ridículo! O cordão umbilical nos alimenta. Eu digo somente uma coisa: A vida após o nascimento está excluída - o cordão umbilical é muito curto.

- Certamente que há algo. Talvez seja apenas um pouco diferente do que estamos habituados a ter aqui.

- Mas ninguém nunca voltou de lá, depois do nascimento. O parto apenas encerra a vida. E, afinal de contas, a vida é nada mais do que a angústia prolongada na escuridão.

- Bem, eu não sei exatamente como será depois do nascimento, mas com certeza veremos a mamãe e ela cuidará de nós.

- Mamãe? Você acredita em mamãe? E onde ela supostamente está?

- Onde? Em tudo à nossa volta! Nela e através dela nós vivemos. Sem ela tudo isso não existiria.

- Eu não acredito! Eu nunca vi nenhuma mamãe, por isso é claro que não existe nenhuma.

- Bem, mas às vezes quando estamos em silêncio, você pode ouvi-la cantando, ou sentí-la afagando nosso mundo. Sabe, eu penso que só então a vida real começa e agora estamos apenas num estágio para ela..."

Recebido ontem do meu amigo Jack e tido como de domínio público.




sábado, 4 de fevereiro de 2012

Arlequins

By Soaroir
17/1/12


Quanta loucura! Cada um vindo de um lugar,
para chegar ao mesmo resultado...



foto by Soaroir (Brigadeiro c Paulista)



nota:(sic)No folclore, o Arlequim anda invisível ou bem escondido entre as pessoas nas ruas agitadas, pode ser visto somente de relances pelos idosos, pelas damas novas e de boa educação e pelas crianças. Esses momentos tipicamente são quando o Arlequim está roubando pirulitos, balas, fumo, doces e coisas preciosas, para depois geralmente escondê-los das crianças

sábado, 21 de janeiro de 2012

Parabens São Paulo

by Soaroir
21/1/12



  • Ao atravessar a Ipiranga com a Av. São João,
o poeta não resistiu. Sacou do violão e juntou

o espanto com encanto

domingo, 8 de janeiro de 2012

Tributos a Olavo Bilac

Conto Minimalista
by Soaroir 8/1/12



“Os Óculos”
O austero e competente doutor examina o ventre da enferma. – Pulga, unhas de gato, exclama. Coberta de pejo balbucia a donzela: — Não! Não é nada... não sei... isto é... talvez seja dos óculos do João...

MICROCONTO
O austero doutor examina-lhe o ventre. Pulga, gato, exclama. Cheia de pejo balbucia a donzela: Não sei... Talvez dos óculos do João...




Tributos a Olavo Braz Martins dos Guimarães Bilac